A Agrofloresta

O Montado de que beneficiamos no Freixo do Meio é, certamente, o sistema agroflorestal mais expressivo e significativo por nós gerido. No entanto, é o resultado de uma visão medieval, pelo que urge desenvolver abordagens sistémicas mais atualizadas, entre as quais se destacam as Agroflorestas.

Agroflorestas

Movidos pela evidência do distanciamento que este sistema apresenta de fatores-chave do sistema natural, como a estratificação das árvores, em 2017, organizámos no Freixo do Meio uma reflexão internacional e coletiva sob o tema «novo montado» de que resultou uma estratégia clara quanto ao caminho a seguir na construção futura de uma relação com o sistema natural, mais dignificante para todos os envolvidos. A esse caminho demos o nome de Novo Montado.

Trata-se fundamentalmente da ideia de estruturar a relação com o espaço a partir de um eixo primordial ― a floresta estratificada de sucessão dinâmica.

Este conceito foi introduzido no Montado do Freixo do Meio por Ernst Gotsch em 2017. Esta visão constitui um marco fundamental na abordagem «Agrícola» ao aproximar o homem da realidade natural da sucessão dos ecossistemas bem como de outros fundamentos básicos.

Os sistemas agroflorestais de sucessão são ecossistemas dinâmicos com inclusão permanente do homem, das árvores, das plantas primárias, dos animais, bem como de todos os outros seres dos diferentes reinos, que ali possam desempenhar as funções requeridas pelo sistema. Por forma a que este evolua e permita no seu último estádio de clímax (abundância) a utilização dos excedentes do sistema por toda a comunidade sem condicionar a sua dinâmica natural.

Existem, no entanto, múltiplas visões sobre a forma como interagir com o «Ager», com o espaço, mantendo neste, a árvore, como elemento chave do sistema. Certamente todas elas contribuem positivamente para a causa em questão, sem que haja nenhuma perfeita ou totalmente incorreta.

Apesar de sabermos que os nossos antepassados, há milénios que interagem com a floresta por forma a integrá-la e daí obterem os recursos que necessitam, parece que foi apenas em 1973 que o canadiano John Bene sugeriu o termo Agrofloresta, identificando a necessidade de inverter a tendência dominante de retirar as árvores de todos os sistemas agrícolas e pecuários.

No entanto, o conceito é ancestral, sendo a primeira obra escrita sobre o assunto, «Tree crops», publicada em 1929 pelo norte Americano Russel Smith. Hoje em dia, nos climas temperados existem, mais do que definições, seis grandes tipologias na caracterização dos sistemas agroflorestais sendo que estas podem e devem ser articuladas entre si:

  1. Sistemas de culturas alinhadas (Alley cropping): o espaço é estruturado de forma a envolver linhas (curvas ou retas) de árvores com uma ou mais culturas não arbóreas que se desenvolvem nos espaços adjacentes.
  1. Corredores Ripícolas ou de Festo (Riparian and upland buffers). Consistem em sistemas agroflorestais relativamente estreitos de bordadura de terrenos não florestados ao longo de rios, linhas de água, lagos, pântanos ou linhas de festo.
  1. Sistemas Agro-silvo-pastoris (Agrosilvopastoral systems). São sistemas que combinam povoamentos arbóreos com culturas agrícolas no sub-coberto e pastoreio de animais, de que o nosso Montado é provavelmente um dos melhores exemplos.
  1. Corta-ventos (Windbreaks). São sistemas que utilizam comunidades complexas de árvores e outros vegetais, dispostos em bandas de diferentes larguras com o intuito principal de diminuir o impacto do vento.
  1. Agricultura de floresta (Forest farming). Sistemas em que se desenvolvem culturas agrícolas no subsolo coberto por árvores.
  1. Jardinagem de floresta (Edible forest garden). É talvez a abordagem mais antiga. Já praticada pelos Jomons no Japão há pelo menos 10.000 anos. É um conceito mais complexo onde se combinam planificadamente árvores em vários extratos com vegetais de porte menor, fungos e animais.

Uma última questão pertinente na definição destes sistemas é a sucessão natural. Todos eles são obviamente ecossistemas e, por isso, sujeitos a sucessão quer queiramos quer não. No entanto, estas tipologias apresentam diferentes desempenhos em diferentes estádios da sucessão. Umas adaptam-se melhor à fase de instalação, outras à fase de acumulação e outras ao clímax. O conceito introduzido pelo Ernst Götsch relaciona, de forma inovadora, a utilização da dinâmica da sucessão natural na implementação eficaz de sistemas de jardinagem florestal.

O nosso projeto concretiza no modelo de Agrofloresta as visões da Agroecologia, da Permacultura e da Soberania Alimentar como forma de abordar o presente e construir o futuro.

Este é um caminho focado na preservação dos ecossistemas e na produção alimentar sustentável, sem a utilização de processos e conceitos alheios ao sistema natural, como forma de abordar, entre outros, o desafio da mitigação das alterações climáticas.

 
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