Queridos amigos do Montado do Freixo do Meio,
Aqui começámos o nosso ano com as chuvas de setembro, que, apesar do novo tempo, já deram vida aos ecossistemas.
Estes têm poucas novidades, felizmente. A vida nos sistemas naturais do planeta Terra é regular e confiável. Já provou.
Somos nós os que ainda não acabámos de acertar.
Motiva-nos essencialmente esta procura: do como e do porquê nos relacionamos com o sistema natural que nos criou e do qual somos completamente dependentes.
Após dois anos do reconhecimento do MFM como área protegida, estamos cada vez mais motivados pela ideia de dar prioridade à existência da Natureza à nossa volta.
Sem a existência do outro não pode haver relação. E muito menos equilíbrio. Cada vez mais o nosso trabalho foca-se nesta relação. Ou seja, entre nós e aquela outra parte de nós que convencionámos afastar e chamar Natureza.
O Montado do Freixo do Meio pretende ainda permitir a todos vós trabalhar também esse equilíbrio.
Protegê-lo, conhecê-lo, valorizá-lo e partilhá-lo é, pois, a principal missão de todos nós.
Em grande medida, foi o que fizemos até agora, e pretendemos continuar a fazer.
No plano da defesa da paisagem do Montado – perante a colonização violenta dos interesses atuais que concorrem para a perda da sua especificidade como espaço singular – trabalhamos em diferentes linhas: criação de consciência, valorização económica e patrimonial, regeneração e diversificação biológica.
Neste contexto, recebemos e sensibilizamos várias centenas de pessoas por mês: escolas básicas, ensino médio e superior, organizações, visitantes, turistas…
Quanto à economia, já melhorámos, mas ainda estamos muito aquém do nível de resiliência que procuramos. Para isso, diversificámos as atividades através da valorização da bolota, aposta na padaria, lagar de azeite e valorização dos recursos alimentares obtidos no Montado, mas também por meio dos serviços didáticos e da partilha do monte.
Finalmente, ajustámos os custos e agilizámos o nosso modelo de gestão, através da reestruturação dos quadros que levámos a cabo no verão.
A construção de conhecimento relativo a este bem comum também não parou. O trabalho profundo e regular do Arqueólogo Manuel Calado, nas áreas da Arqueologia e Antropologia aplicadas ao Freixo do Meio, é um bom exemplo disso. Também avançámos significativamente nas áreas da biologia e da ecologia.
Quanto à ação no terreno, continuamos ativamente a monitorizar, reflorestar, diversificar, recuperar linhas de água e a gerir, como parte integrante, os sistemas naturais, por forma a acelerar ao máximo a sucessão ecológica dos mesmos.
Continuamos a priorizar a vida selvagem. No entanto, na ausência atual de mega-fauna e atendendo à cultura do Montado, continuamos a ser responsáveis por vacas, ovelhas, porcos, galinhas, burros e cavalos domésticos, dimensionados segundo a carga ótima do ecossistema e não por critérios produtivos ou económicos. Participamos, com efeito, nos programas de preservação genética de todos estes animais.
Como o conhecimento continua a ser uma prioridade para nós, continuamos a privilegiar todas as formas de cooperar com a sua construção. Exemplo disso é a participação, enquanto parceiros, no Projeto Europeu Radiant, que tem por objetivo explorar culturas agrícolas pouco difundidas entre nós.
Com a ajuda do Pedro Martins, terminámos o nosso novo site, agora traduzido em castelhano e inglês. Assim sendo, a partir de agora, em freixodomeio.pt pode informar-se sobre toda a nossa atividade, pelo que este meu texto fecha uma época, pois iremos diminuir significativamente o número de e-mails enviados.
Termino com o destaque para os dias que estamos a preparar especialmente para vos receber, ou seja, as Quartas-Freixo e os Mercados Domingueiros.
O próximo Mercado é já no domingo 17 de novembro, com a colheita de cogumelos. No dia anterior, a 16 de novembro decorre o II Symposium sobre a Bolota para consumo humano, e a 8 de dezembro será o Mercado Domingueiro de Natal.
Bem-hajam e até breve,
Alfredo Cunhal Sendim