Na primavera deste ano, uma semente deitada à terra há muito tempo, germinou. O Montado do Freixo do Meio foi integralmente reconhecido pelo ICNF como Área Protegida Privada (APP) passando a integrar a respetiva Rede Nacional de Áreas Protegidas. “Os valores naturais que ocorrem nessa área, assumem pelo seu valor científico, ecológico e paisagístico, uma especial relevância que justifica o seu reconhecimento e integração na Rede Nacional de Áreas Protegidas” (Despacho ICNF prcd nb/003/2022 de 19 de Abril de 2022). As Áreas Protegidas foram implementadas em Portugal pelo arquiteto Ribeiro Telles, em 2008, através do Decreto-Lei n.º 142/2007, com o intuito de contribuir para o ordenamento território. Ordenar no sentido de “pôr ordem”, de “classificar”, para todos sabermos a que se destinam. Todos sentimos o desnorte vivido hoje quanto à vocação das Áreas Protegidas na paisagem – para que servem? para a economia? que economia? para desenvolver o território? para produzir alimento? que alimento? para as pessoas viverem? que pessoas? para produzir energia? que energia? para preservar uma cultura associada essa paisagem? para nos inspirarmos? e qual é a prioridade?
No nosso caso e neste momento especial que vivemos, queremos ter as ideias claras. Queremos, antes de mais, proteger a vida que não sabemos “fabricar” e da qual dependemos porventura muito mais do que podemos imaginar.
Queremos proteger aquilo a que chamamos de natureza, uma vez que nos sentimos parte dela e porque já temos elementos suficientes para entender a nossa dependência desta entidade que teimamos em tratar como mero recurso; mas também o solo vivo, a biodiversidade, a floresta. Na prática, isso significa a implementação de uma visão agroecológica como forma ação para obter o máximo do que necessitamos sem comprometermos o sistema natural e a sua sucessão ecológica, e respeitando a capacidade de carga do ecossistema.
Esta opção depreende ainda um relacionamento com a natureza como participantes e não apenas como utilizadores. Optámos por um caminho partilhado com todos os seres que nos rodeiam, inspirados na longa história de sucesso que tem sido o ecossistema construído pelo Homem a partir do seu meio natural, a que chamamos Montado. Acreditamos na necessidade de reinventar a nossa relação com o meio mas para isso, é necessário que ele exista.
A agroecologia pressupõe uma atitude diferente para com a Natureza, por parte de todos os participantes, ou seja, por todos os que a habitam e não apenas por parte dos que a trabalham. Muito mais do que apenas proteger uma área ou algumas espécies em risco, o que pretendemos é permitir a todos os que o desejarem, com especial foco nos habitantes desta região e paisagem biogeográfica, a possibilidade de reverem, através desta Área Protegida, a sua relação com o meio.
Ambicionamos assim, ser acima de tudo um instrumento de transformação social, suportado pelas vocações originais, relacionadas com a obtenção de ar, água, alimento, um clima adequado,… bem como todas as outras vocações desenvolvidas ao longo dos últimos trinta anos de trabalho. Neste quadro damos especial destaque aos laboratórios-vivos de experimentação que são os campos da agroecologia, as agroflorestas, as zonas conservação e da regeneração ecológica e a arqueologia. Promovemos a comunidade produtiva de projetos autónomos existente no Freixo do Meio, os planos de preservação da biodiversidade selvagem e doméstica e o estudo, experimentação e fomento da bolota para consumo humano.
Estas e outras vias permitem as mais variadas fórmulas de interação com os habitantes locais.
Seja guardião, conhecendo cada vez melhor os valores naturais da APP do Montado do Freixo do Meio, seja colaborador da APP, faça parte da comunidade de projetos autónomos, seja coprodutor do programa CSA ou simples consumidor/ utilizador. Proteja o que o protege. Participe neste movimento que é seu.