Há muito que sonhávamos com um cromeleque no Freixo do Meio. Estava ali preso entre o nosso imaginário e o respeito pelas coisas sérias. As muitas pedras que pontuavam a paisagem em que vivíamos, faziam sentir a sua presença. E adivinhávamos os segredos que nos queriam contar.
Fizemos bem em esperar pelo Mestre. Com ele recuperou-se o menir do Freixo do Meio que, entretanto, cumprira a sua missão num círculo de pedras em Alcácer do Sal.
No primeiro dia em que o arqueólogo Manuel Calado cá veio para nos ajudar a entender a pré-história do Montado, falou-me da existência de um menir muito especial, perto do monte, diferente da Pedra Alta, o monumento pré-histórico, não longe do rio Almansor, no Freixo do Meio. Tinha uma fotografia no telemóvel que provava a existência do monumento. Mas eu, bem como muitos outros, vivíamos aqui há mais de trinta anos e nunca tínhamos visto tal pedra, pelo que teimosamente rejeitamos a ideia, pensando que se trataria de um equívoco.
Acontece que, alguns anos antes, o meu amigo José Arantes, com o propósito de construir um círculo de pedras, na herdade de Porches em Alcácer do Sal, pediu-me para vir aqui ao Freixo carregar alguns blocos de granito, já que por ali não existem muitas pedras. No dia combinado, eu estava muito ocupado, pelo que o Zé partiu na senda de pedras bonitas. Avançou sem hesitar até um lugar ainda perto do monte, onde estavam algumas pedras, parou, mas não conseguir escolher uma. Foi o Pedro Sardinha, operador da máquina que ia carregar as pedras, que finalmente sugeriu uma das que lhe pareceu mais invulgar, e que decidiram levar.
Esta pedra, que em Porches representava o Sul inspirou, entretanto, muitas celebrações rituais. Quando, num equinócio de Primavera visitei Porches, pela primeira vez dei tempo e atenção à tal pedra, ali persenti a força da presença do menir que Manuel Calado referira. Trata-se de um monumento muito especial, com um porte bastante humano, carregando no colo uma espiral de covinhas que contrasta com as várias linhas concêntricas nas suas costas.
Regressado a casa no passado Inverno o menir do Freixo do Meio, foi, entretanto, erguido à mão no local anteriormente encontrado. Com pelo menos 5.000 anos de sabedoria e histórias para contar, pede-nos para revertermos a narrativa de desprezo e de abandono.
O fato de existirem várias pedras meniróides espalhadas nas redondezas do menir, levou-nos logo a ousar sonhar com um cromeleque para lhe fazer companhia. Aceitámos com alegria a proposta do Manuel Calado para que fizéssemos com as pedras ali existentes, uma réplica do Cromeleque de Vale de Rei, o único cromeleque conhecido no Alentejo relativamente ao qual conhecemos a forma e disposição original das pedras. Assim foi e, no solstício de Verão de 2022, nasceu o Cromeleque do Freixo do Meio.
Alfredo Cunhal Sendim