Como pode a Sociocracia fortalecer uma organização?
A sociocracia cria processos circulares. A maioria das organizações funciona do topo para a base, em que se dão instruções e estas são executadas. Há um ciclo de reacções, em que se consegue perceber como estão as pessoas quando algum responsável se cruza com os seus colaboradores, através de inquéritos ou de uma caixa de sugestões – o que não é um feedback efectivo. Para isso acontecer, as opiniões não podem ser ignoradas e deve haver um envolvimento maior nesse sentido.
A sociocracia cria um ciclo de feedback ascendente tão forte e poderoso como o ciclo de feedback descendente que se inicia de cima para baixo, através de uma estrutura circular. Como é que isso melhora as coisas?
Aumenta a capacidade da organização se exteriorizar e também tem o efeito de colocar o foco no plano estratégico e nos processos criativos. Não é apenas um diretor a pensar sozinho em ideias novas ou os colaboradores a lutar entre si por atenção quando querem fazer uma proposta. Assim, todos são integrados nestes processos, a organização torna-se mais ágil e capacitada para lidar com a complexidade.
Na sociedade contemporânea, assiste-se à prevalência de valores culturais individualistas. Como sensibilizar para a construção e participação colectivas?
Vivemos numa cultura marcada pelo individualismo, mas não me parece que dependamos disso para trabalhar porque sempre trabalhámos em equipa. Quando alguém entra numa empresa, integra-se numa equipa. Já tive a oportunidade de ver a sociocracia na prática em muitos países, como a Índia onde são muito comunitários, na Coreia onde são muito autoritários, em contextos mais colectivistas, religiosos budistas, conservacionistas, evangélicos, etc… Todos me demonstraram que os processos circulares são transversais a várias culturas. E em algumas, isso já acontece há muito tempo.
Como se combinam personalidades tão diferentes. De que forma pessoas com traços mais dominantes e competitivos, encaixam neste modelo de governança?
O truque é juntá-las e compreender as suas necessidades e contributos e tirar partido disso para a definição de objectivos comuns e para a construção de uma proposta conjunta. Tentar chegar ao consenso mesmo quando há divisão e alcançar uma única visão mais integradora.
Mesmo em sociocracia, precisamos de líderes?
Sim, sem dúvida! A sociocracia assume que existem líderes. Há sempre pessoas que ficam encarregues de determinadas funções e são responsáveis por áreas, asseguram que certas tarefas são concretizadas. O círculo envolve tanto liderança como quantificação, pessoas que saibam como orçamentar, planificar e estabelecer limites, manter indicadores de progresso e evolução.
E como podemos progredir com a Sociocracia no Freixo do Meio?
Vocês começaram por ter grandes reuniões de círculo mensais com toda a gente envolvida. A minha impressão é que isso ajudou inicialmente para todos trabalharem grandes questões do projecto, perceber qual a estratégia a seguir. Mas a organização por círculos mais pequenos permite concretizar, aprofundar e alcançar mais resultados. Cria outra dinâmica na governança.