Recebemos com entusiasmo na Área Protegida do Montado do Freixo do Meio a visita do Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro acompanhado pelo Secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino e o presidente do ICNF, Nuno Banza, entre outros elementos do Conselho Diretivo do Instituto, no passado dia 9 de fevereiro.
O dia começou cedo com a organização do encontro Natureza 22, promovido pelo ICNF sob o tema de Biodiversidade e Economia, que decorreu durante toda a manhã e que contou com mais de 70 participantes.
Acompanhados pelos amigos, Paco Casero, Paulo Magalhães, Jorge Cristino, e João Carlos Farinha, tivemos a honra de partilhar o nosso cozido de bolota em lume de chão, com o Sr. Ministro e com os demais visitantes.
Seguimos para o Centro de Interpretação do Montado de onde saímos para a Grande Rota do Montado que incluiu uma visita à recente aldeia neolítica e ao projeto autónomo Quinta das Abelhas.
Num ambiente de excelente cooperação tivemos oportunidade de apresentar a nossa realidade, os nossos desafios bem como os nossos parceiros. Abordámos questões que nos parecem essenciais como: a remuneração dos serviços dos ecossistemas nas AP; a criação de feiras francas nas AP que facilitem o escoamento dos produtos; a necessidade de descarbonizar o sector agrícola; a importância de apoiar o funcionamento de laboratórios vivos como o existente no Freixo do Meio; e a importância de apoiar a transição das explorações para a Agroecologia.
O dia ficou ainda marcado pela assinatura de um protocolo de cooperação entre a Fundação Savia representada pelo Paco Casero e a Soc. Agrícola do Freixo do Meio, Lda no âmbito da área protegida. Ficou assim reforçada a longa amizade existente entre nós.
Agradecemos a todos os que participaram neste dia tão especial para o Freixo do Meio, esperando poder em breve voltar a receber-vos, bem como a todos os que desejarem conhecer-nos.
Intervenção do Freixo do Meio no workshop ICNF Natureza 22 Biodiversidade e Economia
A biodiversidade é uma condição para habitarmos este planeta. É uma condição incontornável. Para além deste facto sabemos também que esta condição esta no limite!
Nós somos a primeira geração no activo que:
- Sabe disto!
- Tem certamente a última oportunidade para actuar.
- Tem meios para o fazer.
Perante isto, e atendendo que o sistema económico também é imprescindível para continuarmos o projecto humano, a única coisa que nos parece razoável é adaptar a economia à biodiversidade e aos outros limites planetários, encontrando fórmulas para os compatibilizar.
O ponto de partida para este ano só pode ser de tolerância Zero para a perca de biodiversidade.
Temos que inscrever na missão de cada organização que, antes de qualquer objectivo económico ou social, os limites do sistema terrestre têm que ser atendidos e respeitados, como alias prevê a nossa recente lei do Clima.
Isto implica não tomar qualquer decisão que colida com a promoção e preservação da biodiversidade. Repito, significa que a economia deve moldar-se à biodiversidade.
É possível desde que haja vontade e meios para investir na reconversão que é lenta e complexa, pelo que requer apoio financeiro e técnico.
No âmbito da produção (ainda somos classificados como tal embora sejamos cada vez mais gestores de ecossistemas!), a promoção da biodiversidade:
- Reduz o custo dos factores de produção
- Aumenta a qualidade intrínseca do produto
- Aumenta a resiliência do sistema diminuindo o risco de fenómenos climáticos
- Aumenta a diversificação de actividades diminuindo o risco económico.
É muito melhor, mas lá esta, o problema é que requer uma transição que requer tempo, meios e capacidade. É no fundo um processo evolutivo de compreensão e adaptação ao sistema natural. A Agroecologia, certificada ou não, é no que respeita à abordagem da nossa integração no ecossistema, a única via que conhecemos. Lá está, para produzir com a natureza é necessário que ela funcione e para isso é necessário dotar o sistema dos meios necessários para que este possa funcionar autonomamente, o que implica sempre investimento.
Achamos por isso que o investimento deveria ser apoiado. Através de projectos abertos, multi-disciplinares, propostos pelos promotores a uma instituição também multidisciplinar de avaliação. O pagamento deveria ser efectuado apenas após a obtenção de resultados.
No nosso caso começámos esta conversão há vinte e cinco anos quando decidimos adotar o modelo do Montado, abandonando a visão produtivista dos cereais e da carne. O montado mostrou-nos que o elemento central de gestão é a arvore. A arvore leva-nos ao solo e o solo à biodiversidade, mas qualquer um destes elementos nos leva de novo à arvore. Por isso, já há alguns anos que não tomamos qualquer decisão sem perceber a sua consequência nas árvores, no solo e na biodiversidade com uma especial atenção para a vida selvagem.
Há mais de vinte anos que não usamos produtos de síntese química. Há mais de vinte anos que estamos certificados em AB, mas mais importante que isso é saber que há vinte anos eramos completamente dependentes de “indústrias” e hoje apenas convivemos com um ecossistema vivo!
O foco inicial foi a regeneração natural do estrato arbóreo através de profundas alterações na gestão do solo e do coberto vegetal. Para além de sobreiro foram autorizados a crescer muitas outras espécies. Estudamos a Bolota e o Gato Bravo, diversificando ao máximo os poucos animais domésticos que utilizamos. Trabalhamos activamente os microrganismos do solo, os fungos, as aves, os morcegos…
E a economia foi-se criando, como compete. Através da eficiência intrínseca dos processos adaptados, bem como da diferenciação dos produtos e dos serviços que passamos a promover.
Para isso incorporamos a transformação alimentar aumentado o valor retido. Da produção diversificada passamos assim a uma família de alimentos do Montado. Diversificámos também os canais de distribuição, vendendo em mercados, lojas, on-line, e CSA/Amap. Introduzimos os serviços turístico/didáticos com dormidas, eventos, cantina, visitas, formação,…
Cultivamos há muito a ideia de partilhar o espaço por que somos responsáveis através dos projectos autónomos. Estes são projectos independentes que promovem actividades diversas, compatíveis obviamente com os limites do sistema natural a que pretendemos atender. No ano passado decidimos dividir a nossa actividade com parte dos nossos colaboradores, assumindo estes áreas como a horticultura, parte da transformação alimentar e a distribuição.
A nossa organização focou-se assim na gestão do espaço, facto fundamental para podermos assumir a gestão da área protegida que nos foi atribuída.
Após um longo processo, conseguimos usar este mecanismo essencial de transição ecológica. Na essência, o facto de sermos APP determina a nossa vontade clara de antes de mais nada e se necessário em exclusivo, querermos conservar a natureza deste lugar.
A dinâmica do sistema económico actual é dificilmente compatível com a nossa integração na natureza o que nos evidencia a necessidade de o mudar.
Esta vicissitudes obrigam a um permanente ajuste dos “modelos de negócio”, mas até ao presente, sentimo-nos totalmente capacitados para fazer a nossa parte.
Para terminar, queríamos referir alguns pontos que nos parecem importantes:
- O pagamento dos serviços dos ecossistemas. As AP´s abrem um quadro claro para o fazer. No nosso caso a remuneração permitiria claramente a diminuição da pressão da produção;
- A criação de mercados Francos para escoamento dos produtos das AP´s;
- A aplicação do princípio do pagador poluidor, ou aqui do não cumpridor do limite, pagador, através de sistemas fiscais;
- A importância de descarbonizar a agricultura;
- A importância de apoiar a transição agroecológica.