Água, esse Bem

Mergulhemos um pouco no tema Água?

Prometo viajarmos ao longo deste texto para que, em conjunto, ganhemos mais consciência sobre este recurso de valor incalculável para a vida neste planeta, neste macroorganismo em crescimento a que chamamos Terra. Comecemos por imaginar a imensidão do Universo, localizar um cantinho a que chamamos via láctea onde existe uma estrela maior que em português é conhecida como Sol. Em redor dessa estrela, há uma massa de energia (entre muitas), um macroorganismo, que em determinado momento da sua história consegue condições para a existência de uma atmosfera que, por sua vez, cria outras condições para a existência desta tal molécula, designada H2O, em pelo menos três estados físicos. A esta coexistência podemos agradecer toda a vida que nos rodeia.

E se é verdade que 97% da água do planeta está nos oceanos, também o é que dos 3% que restam, 75% está em glaciares, 14% em água profundas (a mais de 800m) e apenas 11% dos 3% é que está disponível para beber (rios, lagos, poços, furos, solos, atmosfera), sendo que cada vez mais está poluída. Se esta evidência não é facto suficiente para nos fazer actuar, gerar consciência e interesse em melhorar, deveríamos fazer por isso!

Que boas práticas podemos promover para caminhar lado a lado com a Água?

Podemos acima de tudo observar. Observar os nossos entornos sociais e ambientais. Podemos procurar inspirarmo-nos com quem já experiencia estas boas práticas. Podemos observar o nosso ecossistema, quer este seja o nosso apartamento, a nossa vivenda, a nossa quinta, aldeia ou cidade. Perceber por onde e como a água se move para poder capitalizá-la mais.

Para mim, uma evidência é que a maioria dos humanos integrou a água potável nos seus sistemas de transporte de dejectos. E gastamos uma quantidade de energia enorme a limpar essa água. Não seria melhor procurar alternativas? As cada vez mais conhecidas casas de banho secas parecem-me ser de muito mais senso comum. Também me parece muito sensato tratar as água cinzentas (com origem em banhos e cozinhas) com plantas. Porque não plantar agroflorestas e encaminhar todas a nossas águas residuais para estes seres incríveis que são as plantas e, principalmente, as árvores?

Existem muitas formas de capital e acredito que a Água deve encaixar-se em muitas, excepto na financeira. Podemos vê-la como um capital vivo, intelectual, espiritual, cultural, social, experiencial e até material. Mas pô-la no sistema financeiro é sujá-la e não há plantas que a limpem depois.

E, assim, convido todos a levar connosco a partir de agora uma bandeira. Uma bandeira bem alta, bonita e colorida. Uma bandeira que convida quem a vê a tomar como seu direito o direito à água potável para todos os seres que co-habitam a casa Terra.

Somos 70% de água. A água alimenta. E sem uma boa alimentação a medicina não funciona, mas com uma boa alimentação a medicina não faz falta. Aproveitemos então um Bem Comum (ou O Bem Comum) que temos aqui no Freixo do Meio: esta água regeneradora de seres vivos e ecossistemas. E procuremos ecossistemas similares para os proteger. E porque não co-criar novos ecossistemas para regenerar, pouco a pouco, o planeta?

Deixo-vos algumas frases de um dos mestres que mais influenciou, até agora, esta minha passagem pela Terra e que, graças a este bocado de terra que temos em comum, a Herdade do Freixo do Meio, pude conhecer pessoalmente, aprender e trocar ideias. Refiro-me a Ernst Götsch e, aqui, partilho algumas notas dos vários encontros:

– Seremos células deste macroorganismo movidos pelo prazer interno e com certeza da sua função? Façamos por isso.

– Porque não descer do pedestal do inteligente para integrar um sistema inteligente?

– Pratiquemos as relações inter e intra-específicas baseadas no amor incondicional em cooperação movidas pelo prazer interno.

– O sol colhe-se e a água planta-se!

Bem haja e muita água da boa,

Bernardo Jardim Oliveira Sá Nogueira

Colaborador da Equipa dos Hortícolas

Nota: Recordamos que, neste momento, o ciclo da água está alterado. A chuva foi residual na Primavera e enfrentamos um período de seca severa. Acreditamos que a ausência de árvores e a falta de regeneração da floresta tem um papel determinante nesta realidade. O solo exposto aquece com a radiação solar e sem manta morta o subsolo compacta. Em consequência, quando chove a água escorre e não se infiltra lentamente de forma a percorrer os diferentes horizontes do solo e a recarregar os aquíferos. Um solo vivo é permeável, tal como uma esponja. Plantar mais árvores é um forte contributo para reequilibrar este ciclo natural.

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