Ana Maria de Sousa Carvalho Cunhal nasceu em Lisboa no dia 21 de Junho de 1939 e morreu também em Lisboa a 20 de Agosto de 2017.
Depois de ter estudado no Colégio do Ramalhão – sendo as Dominicanas escolhidas em desprimor das Doroteias de Évora porque, provavelmente para a óptica paterna, Sintra respirava mais perto da capital cosmopolita – frequentou o Instituto de Serviço Social de Lisboa, onde concluiu o curso. Pertencendo a uma geração onde as mulheres procuravam iniciar-se em saberes fora de casa – nomeadamente escolhendo entre professora, enfermeira ou assistente social – a opção por esta última formação corresponde a uma propensão com marcas de classe, melhor dito, uma tendência de estrato que também muito a aproxima do pai, Alfredo Maria Praça Cunhal (n.1908 – f.1983), latifundiário alentejano, com um perfil de grande responsabilidade colectiva e marcadamente formatado pela doutrina social católica.
Contudo – e como à época também acontecia com alguma frequência na balança entre a carreira e a família – esta preparação nunca se traduziu em apetrecho para uma profissão mas serviu-lhe, outrossim, não só para cimentar uma forma comprometida de estar na vida e educar quatro filhos, como ainda ter conseguido administrar um vasto património com habilidade e sabedoria porquanto, sendo filha única, recebeu muita terra como herdeira universal.
Para melhor avaliar o ónus da tarefa, convém situar a circunstância nacional onde teve de actuar: reforma agrária em 1975 com retoma das terras em 1983-2000. Ambas acompanhadas de embates sociais ou afectivos medrados por situações de negociação continuada, entre dissabores e até ódios, no mínimo ressentimentos difíceis de superar em qualquer dos lados. A Dra. Ana Maria, são todos unânimes em afirmá-lo, revelou grande capacidade de manobra jurídica, ou não fora de uma linhagem de juristas beirões e da velha tradição coimbrã incluindo José Joaquim Lopes Praça, mostrando ainda preparação como assistente social, logo dotada de ferramentas para perceber a injustiça social.
Assumidamente católica no pensar, sem maternalismos efémeros mas com caridade. Assumidamente católica no agir, sem fomentar dependências mas criando condições.
Aliás terá sido a partir daquela época precisa que melhor deu visibilidade a qualidades intrínsecas de personalidade, orientadas por princípios éticos e comportamentos que desde sempre a nortearam, como testemunham colegas do ensino superior, amigos ou membros destacados do PCP, associados à generosidade= abnegação, altruísmo, bondade, largueza, indulgência, liberalidade.
Para ser generoso é preciso ter. Mas é preciso compartir por bondade e ser abundante no dar.
Complementarmente, assumiu uma atitude de responsabilidade social perante o património mediada pela importância de lhe dar continuidade também pela memória.
No limite, Ana Maria de Sousa Carvalho Cunhal viveu a generosidade e a preservação da memória tão profundamente que nunca colocou o seu nome naquilo em que beneficiou os outros, e sempre associou as ofertas espalhadas pelas instituições de Montemor-o-Novo ao nome do Pai. Assim sendo, até nisso foi fiel às exigências últimas do valor/virtude da generosidade, pois digamos que as devolveu às origens familiares, segundo os requisitos do étimo latino gens: “aquele que teve bom nascimento”.
Neste contexto, a Sociedade Agrícola do Freixo do Meio Lda., representada por Alfredo Maria Cunhal Sendim, decide criar e regulamentar o Prémio AMSCC destinado a distinguir uma actividade pessoal ou institucional concreta reveladora de práticas e comportamentos para CRIAR FUTURO PRESERVANDO A MEMÓRIA, efeitos para o bem-comum e casa comum.
REGULAMENTO PUBLICADO EM WWW.FREIXODOMEIO.PT
Circunscrito a uma actividade pessoal ou institucional que evidencie resultados humanos e efeitos sociais concretos baseados em
CRIAR FUTURO
PRESERVANDO
A MEMÓRIA
o Prémio AMSCC rege-se por estes contornos:
– Destinado a mulheres portuguesas ou instituições portuguesas
– Iniciado em 2023, anual, com o valor de 1000 euros
– Financiado pela Sociedade Agrícola do Freixo do Meio Lda.
– Divulgado publicamente entre o Encontro da Espiga realizado no MFM e o dia 21 de Junho
– Envio das candidaturas – CV pessoal ou institucional resumido = 5000 caracteres no máximo = e um texto sobre a actividade = 30000 caracteres no máximo = até 21 de Agosto
– Entregue publicamente durante o Encontro do Outono realizado no MFM, sendo o curriculum vitae e o texto premiado, publicados posteriormente em rubrica especial do site do MFM
O júri inicial será composto por Alfredo Cunhal Sendim, que preside, Ana Luísa Janeira, Francisco Rodriguez Casero, Francisco Xavier Caudevilla Cunhal Sendim, Paulo Magalhães, Mário Fortes; esta composição poderá sempre vir a ser alterada por decisão do presidente
Montado do Freixo do Meio, Maio 2023
Alfredo Cunhal Sendim
alfredosendim@herdadedofreixodomeio.pt