O nosso caminho desde 1993 foi regressar à atitude ancestral de tentar resolver os nossos problemas sem deixar de respeitar os limites da Natureza, o que significa na prática entender que estamos aqui para participar num sistema que nos criou, porque precisa de nós (Macro-organismo Gaia), e que só atuando para o todo poderemos chegar ao “nós”. Isto é Agroecologia, uma ética ancestral, uma ciência, mas essencialmente um movimento ideológico. Aqui chamava-se Montado. Um sistema agroecológico iniciado no Neolítico que se desenvolveu mais tarde na Idade Média a que regressámos inicialmente como porto de abrigo.
Foi a história através do trabalho da Ana Fonseca que nos ajudou. Transitar de um modelo químico e mecânico para a agroecologia, de sempre, do Montado, foi um primeiro passo apoiado pelo movimento então pioneiro da agricultura biológica que nos permitiu essencialmente inverter o caminho de destruição e de dependência. São já mais de duas décadas de respeito pelos ciclos naturais de fertilidade e pela potenciação da biodiversidade. São já mais de duas décadas sem utilizar químicos ou transgénicos, sem mobilizar solo exceto em situações especiais, promovendo a regeneração florestal, após o abandono consciente e efetivo do modelo agrícola que vinha a ser seguido desde o Estado Novo e que foi continuado pelos períodos da pós-revolução e da entrada na União Europeia.
O Montado permitiu-nos criar uma economia diferente que para alem de proporcionar trabalho a dez vezes mais pessoas que a média da região (30/3), alimenta também de uma forma diferente, cada dia, em pelo menos 50% das suas necessidades, mais de 300 famílias (3 pessoas). Passamos de três culturas (Ovelhas, trigo e cortiça) para mais de 50 com foco económico; aprendemos a transformar recursos naturais em alimentos; e construímos de raiz, sete unidades de transformação alimentar. Foi necessário muito investimento de diferentes tipos, mas sobrevivemos. Fomos pioneiros do Farm-to-fork, indo para junto dos consumidores nos mercados, mais tarde com uma loja em Lisboa, criando um dos primeiros movimentos de Agricultura Apoiada pelo Consumidor (CSA Partilhar as Colheitas) bem como uma das primeiras lojas on-line de agricultor no nosso país.
Mas é pouco. Devíamos conseguir alimentar vinte vezes mais pessoas sem degradar os ecossistemas para obter uma verdadeira soberania alimentar. Para isso temos de regenerar. E é por isso que ativamente procuramos experienciar e introduzir modelos e técnicas que nos permitam lá chegar. A Agroecologia, a Permacultura, o Montado, a agricultura Biológica, a agricultura Biodinâmica, a agrofloresta de sucessão dinâmica, o trabalho com a água, com os fungos e os microorganismos, a florestação regenerativa, o maneio holístico de animais, e tantas outras visões em curso. A Área Protegida do Montado do Freixo do Meio permite através das suas três zonas, conservação, montado e inovação, conciliar o passado com o presente, com os sonhos e desafios do futuro.
Alimentar-se no Montado do Freixo do Meio não é apenas uma partilha justa de um bem essencial obtido de uma forma agroecológica, é essencialmente uma oportunidade de regenerar este pedaço de casa, e de torná-lo também seu, de uma forma consciente, ordenada, segura e coletiva através da cooperação com os diferentes projetos que operam no Montado do Freixo do Meio.